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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Você samba de que lado, Sergio Xavier?

Por Edilson Silva

Conheci pessoalmente o Sergio Xavier em 2009, quando do processo de filiação de Marina Silva ao PV. De lá pra cá, estreitamos minimamente nossa relação política e disputamos juntos o governo do Estado em 2010. Num dos debates televisivos, tamanha a afinidade com suas propostas, fiz uma brincadeira séria dizendo que em meu governo o convidaria para ser meu secretário de Meio Ambiente. Ele, sempre muito educado, retribuiu a gentileza e também me “nomeou” seu secretário num futuro governo.

Passada a eleição, nem eu e nem Sergio fomos eleitos. Como não faço política pensando em projetos pessoais, pensei com muita honestidade: vamos juntar os nossos “votinhos” em Pernambuco, votos muito dignos, e fazer uma oposição coerente e com mais força em nosso estado. Afinal, a química PSOL com PV, com toda a simbologia das duas propostas, com a dimensão demonstrada pela votação da Marina Silva, poderia gerar uma força política razoável para, mesmo fora dos governos, dialogar e mobilizar a sociedade civil, os movimentos sociais, em defesa das demandas mais sentidas pela população.

Malandramente, o governador Eduardo Campos, de olho no discurso ambiental (e não na proposta ambientalista), buscou cooptar o ex-candidato verde para o seu governo. Como não era de se esperar – pelo menos eu não esperava -, Sergio aceitou ser secretário do governador. De duas, uma, pensei: ou Eduardo Campos repensou seu modelo predatório de crescimento, diante da grande votação de Marina Silva em Pernambuco, ou Sergio Xavier foi cooptado facilmente pelo governo. Na dúvida, meu partido, o PSOL, soltou uma nota dando ao novo secretário Sergio Xavier um voto público de confiança (http://edilsonpsol.blogspot.com/2011/01/nota-da-executiva-estadual-do-psol.html ). Este gesto buscou simbolizar também nossa firme e honesta disposição de trabalhar politicamente uma unidade com os “verdes”.

Contudo, após praticamente um semestre à frente da pasta do Meio Ambiente e Sustentabilidade, vemos que o governo Eduardo Campos não mudou, e que seu secretário de Meio Ambiente não está nada parecido com aquele candidato das eleições de 2010. A secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade é um mero aparelho de factóides do governo do Estado. A CPRH, grande queixa do movimento ambientalista de PE, continua com a mesmíssima gestão de antes, totalmente desvinculada da nova secretaria e com os mesmos problemas. Na crise das enchentes, nada de secretaria de Meio Ambiente. Na mobilização que está havendo agora contra os agrotóxicos na agricultura pernambucana, outras secretarias participam sempre para justificar a opção anti-ambientalista do governo, mas ninguém nem ouve falar da secretaria de Meio Ambiente.

O meu querido Sergio Xavier teve agora, com a saída de Marina Silva do PV, uma excelente oportunidade de sair do governo e denunciar a manobra de Eduardo Campos em querer incorporar ao seu governo um selo verde de mentirinha. Mas, para a minha maior surpresa, Sergio está discursando por aí que está com Marina Silva para construir uma nova política, mas ao mesmo tempo ficou no PV e, pior, mantém-se como secretário de governo! Ou seja, ele quer estar em todos os lugares ao mesmo tempo: dentro do PV; fora do PV; construindo a nova política; participando como secretário de governo da velha política.

O governador Eduardo Campos, após a licença de seu secretário da presidência do PV, disse que não havia porque mudar a secretaria, pois estava satisfeito com o seu auxiliar. Óbvio! A micro-secretaria, com cerca de 50 cargos, não faz nada no sentido de mudar a essência de seu governo, não critica nada, não abre a boca sobre as enchentes, sobre Suape, sobre os agrotóxicos, sobre a extinção das praias do litoral sul da região metropolitana, não sugere nada que faça qualquer inflexão minimamente relevante no governo.

Com todo o respeito, mas secretaria para fazer propaganda de um caminhãozinho elétrico é muito pouco para Sergio Xavier emprestar seu discurso de sustentabilidade ambiental para um dos maiores representantes da velha política com nova roupagem no Brasil: o PSB de Eduardo Campos.

Procurei no blog do Sergio Xavier um excelente artigo que ele escreveu em julho de 2010, quando era candidato ao governo, para explorá-lo neste texto. Mas para a minha surpresa, o “Manifesto MangueBrita”, que fazia corretas críticas ao governador Eduardo, sumiu do seu blog. Como eu o tinha guardado com carinho, publiquei no meu blog ( http://edilsonpsol.blogspot.com/2011/07/na-contramao-do-manguebeat-governo-de.html ) e convido os leitores mais pacientes para lê-lo, ou relê-lo. A atitude de tentar deletar idéias me lembra muito Fernando Henrique Cardoso: “esqueçam o que escrevi!”. Ou então Lula: “era tudo bravata!”. Nada mais velho na política: a antiga e condenável charlatanice.

Em minha modesta opinião, ainda há tempo de Sergio reconciliar-se com seu discurso mais bonito e mais correto. Há tempo ainda de estar nas audiências públicas sobre novos estaleiros em Pernambuco ao lado da população, dos pescadores, e não escondido atrás de um birô. Há tempo de estar ao lado dos agricultores, dos movimentos sociais e das ONGs sérias que lutam contra os agrotóxicos na agricultura. Ao lado dos manifestos anti-nucleares. Ao lado dos que lhe confiaram a esperança de uma nova forma de fazer política. Mas para isto, precisa responder definitivamente a uma pergunta: de que lado você samba, Sergio Xavier? Eu torço, ainda, para que sambe do lado certo, que é na oposição a este governo tão bem definido por ele em 2010: governo MangueBrita.

Presidente do PSOL-PE
WWW.twitter.com/EdilsonPSOL
http://www.edilsonpsol.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Excelente artigo! Infelizmente, muitos usam o discurso Verde de uma maneira retórica.Para esses, parecer "Verde" é mais importante do que ser "Verde". O Etanol é um exemplo disso: por trás de um discurso ecologicamente correto, estão as queimadas, a monocultura, o latifúndio, as péssimas condições de trabalho do trabalhador do campo. Sem falar nos resíduos poluentes das Usinas (vinhaça) que são despejados nos rios.

    Precisamos estar atentos para os hiatos entre os discursos políticos e as práxis.

    Jônathas Cruz
    http://blogdejonathas.blogspot.com/

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