Na recente
reunião da Executiva Nacional do PSOL debatemos e votamos resoluções avaliando as
eleições em 2012 e a atuação do PSOL no processo. Três proposições foram
apresentadas formalmente à votação. Os que subscrevem esta declaração votaram
na proposta apresentada pelo presidente do PSOL, Ivan Valente, que recebeu ao
final 8 votos, conformando posição majoritária na instância. No momento da
votação, declaramos voto crítico nesta proposta, comprometendo-nos em divulgar
à Executiva e ao conjunto do partido nossas razões.
O caminho
natural nos levaria a apresentar resolução conjunta com os companheiros Jefferson
Moura, Janira Rocha e Martiniano Cavalcanti – também membros da Executiva
Nacional, e que conosco compuseram um campo e chapa no último congresso do
PSOL. Contudo, particularidades conjunturais e o fato de não estar em questão apenas
o balanço do processo eleitoral, levou-nos a compor, nesta votação, com o campo
político do companheiro Ivan Valente.
Elencamos
abaixo apenas alguns aspectos para o debate e que julgamos necessário se jogar
mais luz nas discussões internas, de forma que possamos de fato retirar das
lições de 2012 um aprendizado para nosso jovem partido e sua militância.
1. É inegável o crescimento e a vitória
do PSOL nestas eleições. Não só nas cidades onde passamos dos dois dígitos e
onde fomos ao segundo turno e vencemos, mas também em outras onde os números talvez
não reflitam bem este crescimento. Os resultados em Maceió, Vitória, Belo
Horizonte, João Pessoa, Porto Velho, Campinas, Niterói, Viamão, só para citar
algumas cidades, precisam ser bastante comemorados e mostram o espaço que se
abre à reorganização de uma esquerda anticapitalista com influência de massas
no Brasil. Contudo, entramos neste processo como uma “colcha de retalhos” e saímos
dele como uma “enorme colcha de retalhos”. O PSOL reafirmou-se como uma frente
de correntes e não conseguiu ver brotar de dentro de si um projeto hegemônico imponente
internamente, que possa se expressar naturalmente por uma liderança nacional,
como o fez Heloisa Helena num primeiro momento. Talvez o maior consenso – ou menor
dissenso, tenha se criado em torno do nome do companheiro Marcelo Freixo, pelo
nível, volume e visibilidade nacional da campanha no Rio de Janeiro. Contudo, é
absolutamente compreensível e razoável – inclusive pela fotografia do PSOL
nesta conjuntura, que o companheiro Marcelo Freixo já tenha se decidido por
priorizar um projeto político nos limites do Rio de Janeiro até 2016.
2. Ao mesmo tempo, resta claríssimo
deste processo a importância estratégica das eleições nas disputas que fazemos
na sociedade brasileira. A despeito de nossa ainda quase inexpressividade nos
movimentos sociais organizados, a nossa firme presença institucional – nossos parlamentares
são brilhantes -, viabilizou nossa identidade com as mobilizações populares e
com as lutas sociais no país. As eleições se revelam momentos de disputa de
projetos estratégicos e de certa forma o ápice desta disputa no imaginário da
sociedade. Por mais óbvio que isto pareça, é necessário reafirmar neste balanço
este fato, dadas as discussões internas que ainda temos acerca do tema da estratégia
política.
3. Se o escrito acima está minimamente
correto, está também nítido que o PSOL tem uma gigantesca tarefa no próximo
período, que é buscar dar contornos nítidos a um projeto político nacional que o
unifique o mais possível e a uma amplíssima vanguarda em todo o país, e que ao
mesmo tempo sirva de horizonte para contribuir na reorganização dos tradicionais
e também novos movimentos sociais, tarefa esta que já havíamos elencado no 3º
Congresso do PSOL em nossa tese (Um passo em direção ao Brasil real), como das
prioritárias do PSOL para afirmar-se como alternativa anticapitalista no Brasil.
4. Há também um fator na avaliação do
processo eleitoral que não pode escapar ao PSOL: a intervenção do movimento
liderado por Marina Silva. Diferentemente do que sempre propusemos para Marina
Silva e seu Movimento Nova Política - que era um diálogo em torno de temas
estratégicos e de forma institucional com o PSOL, e não apenas com lideranças e
agrupamentos internos -, o que vimos no processo eleitoral foi o aprofundamento
de uma relação de mais “varejo político” com o PSOL, varejo que também podemos
ver por todo o país com outras siglas e lideranças, combinando e articulando –
propositadamente ou não, uma desresponsabilização com a construção de
alternativas pela esquerda para a política no país, razão pela qual podemos
afirmar a perda de condições de seguir buscando o diálogo no patamar que antes
pretendíamos.
5. Outro fator importante que precisamos
debater com mais profundidade é o fortalecimento do Lulismo e do pior do
petismo. A simbologia maior deste quadro foi a vitória de Haddad em São Paulo,
com o apoio prévio de Maluf. Este fator, combinado com a vitória do governador
Eduardo Campos e seu PSB, assumindo forte presença, sobretudo, na região
nordeste, constroem um vetor de fortalecimento da ala mais social liberal do
campo da chamada Frente Popular, o que leva maiores contradições para os
setores honestos de esquerda que ainda residem neste campo.
6. Em relação às polêmicas envolvendo as
nossas candidaturas em Macapá e Belém, reafirmamos que não vemos problemas em
receber apoios manifestados por lideranças de partidos que não compõem o arco de
alianças autorizado pelas instâncias partidárias. Esta reafirmação é ainda mais
clara em relação ao 2º turno, em que um caráter praticamente plebiscitário toma
conta das eleições.
7. Especificamente sobre Macapá, temos
sérias críticas à forma como o recebimento dos apoios foi conduzido. Apoios de
lideranças do DEM e PSDB não podem ser recebidos de forma festiva e com
declarações que deem margens a interpretações que constranjam nossa militância.
Ao mesmo tempo, condenamos veementemente a postura de determinados setores do
partido que rompem as fronteiras internas e vão à crítica pública aos nossos
candidatos e lideranças, dando munição aos nossos adversários imediatos na
disputa, ainda mais quando esta crítica é seletiva, pois não vimos similar
indignação à presença de liderança do PSDB na campanha do Marcelo Freixo no Rio
de Janeiro. Felizmente, os companheiros de Macapá, o prefeito eleito Clécio Luís
e senador Randolfe Rodrigues, já fizeram as devidas autocríticas.
8. Ainda sobre Macapá, as atenções do
PSOL devem estar voltadas agora à gestão da cidade. A primeira gestão numa
capital do PSOL deve estar sob permanente vigilância e apoiamento, de forma que
se constitua num exemplo de governo popular e democrático.
9. Sobre Belém, entendemos ser algo que
mereça sim um balanço mais profundo. Mais uma vez, não se trata de negar a
presença e apoio de Lula e Dilma na campanha do PSOL, mas neste caso nossa
crítica vai além da forma como recebemos os apoios. As peças publicitárias que
podemos ter acesso mostram um apoio muito equilibrado e respeitoso da
presidente Dilma Rousseff, que foi ao nosso programa afirmar que nosso
candidato era o melhor e que faria as parcerias necessárias com o nosso governo,
ou seja, algo que se insere dentro do pacto federativo e que o povo espera de
quem elegeu. Mas, receber o apoio de Lula defendendo o governo Lula em nosso
programa foi um equívoco profundo. Mais que isto, abrir espaços no imaginário
popular da cidade e do Estado para se reeditar a polarização PT versus PSDB
numa capital em que o PSOL está no 2º turno contra o PSDB, e que foi algo que
percebemos em alguns debates protagonizados pelo nosso candidato Edmilson
Rodrigues, foi uma opção que – tudo indica, foge ao espectro da mera tática
eleitoral e avança para um campo de mais longo alcance. O PSOL já fez na
eleição passada um gesto tão ou mais ousado, quando no Rio Grande do Sul abriu
mão de uma candidatura ao senado, em plena reta final de campanha, para apoiar
o então candidato Paulo Paim, do PT, que acabou se elegendo. Não é novidade,
portanto, tais movimentações no PSOL, mas é inegável que agora pode ter havido
uma mudança de qualidade. Cremos que seja necessário – e estamos reivindicando
isto da direção da campanha e do PSOL em Belém, um balanço mais acabado, mais
minucioso, para que possamos tirar conclusões de maior fôlego deste processo.
10. O texto aprovado pela Executiva
Nacional toca nas eleições na cidade de São Paulo também, fazendo avaliações
específicas sobre o desempenho do PSOL nesta cidade. Destacamos este ponto como
algo em aberto para nós, pois não nos apropriamos suficientemente daquela
realidade e entendemos que dada a importância da cidade – a maior do país, e
pelo fato de ter-se dado a ela este peso no balanço por parte de um importante setor
da direção do partido, seria conveniente a direção partidária local municiar o
conjunto da Executiva Nacional com suas considerações de balanço.
11. Por fim, acreditamos que este debate
deva seguir no PSOL, não como uma disputa interna, mas como o exercício do
debate político necessário ao desenvolvimento do próprio PSOL. Neste sentido, lamentamos
que um processo tão rico e vitorioso para nosso partido, e que poderia nos
emprestar lições de caráter estratégico – se melhor avaliado, venha se convertendo
majoritariamente em mais uma arena para disputas conjunturais despolitizadas por
parte de alguns dirigentes e suas correntes internas, visando por um lado a
legítima busca de hegemonia interna no PSOL e, por outro, antecipar da pior
forma o debate sobre as eleições em 2014. De nossa parte queremos e vamos
continuar fazendo o debate interno buscando o melhor posicionamento do partido
na política brasileira e sempre numa perspectiva de influenciar cada vez mais
nos rumos do nosso povo, em direção a uma sociedade essencialmente socialista.
Edilson
Silva – Secretário Geral Nacional do PSOL
Ronaldo
Santos – membro suplente da Executiva Nacional do PSOL