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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Espírito anti-republicano combinado com farsa técnica

Por Edilson Silva



Não são poucos os momentos históricos em que podemos perceber sociedades tolerando amplamente autoritarismos, populismos e outros ismos que atentam contra os indispensáveis princípios republicanos. A associação destes momentos com períodos de crescimento econômico não é mera coincidência. No Brasil, foram bastante perceptíveis – guardadas as particularidades históricas e seus limites, com Getúlio Vargas, com os governos militares pós-golpe de 64 e, mais recentemente, com a chamada era Lula.

Em dadas condições e sob certos governos, economia pujante rima com república declinante. É nestes momentos que se diferenciam também os verdadeiros estadistas dos meros oportunistas que só fizeram montar no cavalo que passou selado a sua frente e levá-lo com toda a carga para o deleite seu e dos amigos mais próximos.

É o que estaríamos presenciando neste momento em Pernambuco. Embalada nos bons e desejáveis índices de crescimento econômico e do apoio popular daí derivado, uma grande “obra” vai se erguendo em nosso meio: a desconstrução da política enquanto meio fundamental para a busca do equilíbrio entre democracia, liberdade e igualdade. O governador, colocando-se acima da política, invade os tribunais de Justiça e de Contas, a mídia, o Legislativo. Julga-se até capaz de impor à cidade do Recife um marionete sob seu comando.

O aplauso fácil dos bajuladores sempre barulhentos e a adesão ainda mais fácil da manada travestida de frente partidária que segue cega o cheiro do poder e do dinheiro daí extraído – seja quem for o cocheiro, devem ter elevado a arrogância do governador ao limite do jogo. Talvez esta arrogância combinada com a ânsia e o desejo incontrolável de chegar ao Palácio do Planalto. Talvez tudo isto contando com a despolitização completa do povo do Recife que, hipnotizado, ficaria olhando para os olhos claros do governador enquanto vota desapercebido em Geraldo Julio para prefeito. Muito perigoso isto.

Mas os perigos na postulação do marionete do governador não param por aí. Toda esta despolitização vem devidamente acompanhada da retórica mais nova do neoliberalismo em decomposição: o tecnicismo, numa versão que mais se parece com uma espécie de positivismo malandro. Saem os políticos, entram os técnicos. As decisões políticas sobre as prioridades da gestão são tomadas nos altos salões do poder econômico, nas diretorias das corporações financeiras e grandes conglomerados empresariais, cabendo aos governos apenas executá-las “tecnicamente”. A pergunta que não quer calar: pra quê eleição, então? Na escalada de decomposição republicana a que o capitalismo em sua fase neoliberal decadente nos submete, este talvez seja, de novo, o próximo passo.

Recife quer e precisa eleger seu prefeito, que precisa ser um líder político para sentir e viver as dores e delícias de nossa cidade, para ouvi-la, mobilizá-la, transformá-la e não apenas administrá-la como uma empresa. O prato-feito do governador, definitivamente, não combina com nossa cidade. Espero que o Recife reaja.

Presidente do PSOL-PE

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