Não
são poucos os momentos históricos em que podemos perceber sociedades tolerando amplamente
autoritarismos, populismos e outros ismos que atentam contra os indispensáveis
princípios republicanos. A associação destes momentos com períodos de
crescimento econômico não é mera coincidência. No Brasil, foram bastante perceptíveis
– guardadas as particularidades históricas e seus limites, com Getúlio Vargas, com
os governos militares pós-golpe de 64 e, mais recentemente, com a chamada era
Lula.
Em
dadas condições e sob certos governos, economia pujante rima com república
declinante. É nestes momentos que se diferenciam também os verdadeiros
estadistas dos meros oportunistas que só fizeram montar no cavalo que passou selado
a sua frente e levá-lo com toda a carga para o deleite seu e dos amigos mais
próximos.
É
o que estaríamos presenciando neste momento em Pernambuco. Embalada nos bons e
desejáveis índices de crescimento econômico e do apoio popular daí derivado,
uma grande “obra” vai se erguendo em nosso meio: a desconstrução da política
enquanto meio fundamental para a busca do equilíbrio entre democracia,
liberdade e igualdade. O governador, colocando-se acima da política, invade os
tribunais de Justiça e de Contas, a mídia, o Legislativo. Julga-se até capaz de
impor à cidade do Recife um marionete sob seu comando.
O
aplauso fácil dos bajuladores sempre barulhentos e a adesão ainda mais fácil da
manada travestida de frente partidária que segue cega o cheiro do poder e do
dinheiro daí extraído – seja quem for o cocheiro, devem ter elevado a arrogância
do governador ao limite do jogo. Talvez esta arrogância combinada com a ânsia e
o desejo incontrolável de chegar ao Palácio do Planalto. Talvez tudo isto
contando com a despolitização completa do povo do Recife que, hipnotizado,
ficaria olhando para os olhos claros do governador enquanto vota desapercebido em
Geraldo Julio para prefeito. Muito perigoso isto.
Mas os perigos na postulação do marionete do governador não param por aí. Toda esta despolitização vem devidamente acompanhada da retórica mais nova do neoliberalismo em decomposição: o tecnicismo, numa versão que mais se parece com uma espécie de positivismo malandro. Saem os políticos, entram os técnicos. As decisões políticas sobre as prioridades da gestão são tomadas nos altos salões do poder econômico, nas diretorias das corporações financeiras e grandes conglomerados empresariais, cabendo aos governos apenas executá-las “tecnicamente”. A pergunta que não quer calar: pra quê eleição, então? Na escalada de decomposição republicana a que o capitalismo em sua fase neoliberal decadente nos submete, este talvez seja, de novo, o próximo passo.
Recife
quer e precisa eleger seu prefeito, que precisa ser um líder político para
sentir e viver as dores e delícias de nossa cidade, para ouvi-la, mobilizá-la,
transformá-la e não apenas administrá-la como uma empresa. O prato-feito do
governador, definitivamente, não combina com nossa cidade. Espero que o Recife reaja.
Presidente do PSOL-PE
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